Nos últimos anos mais e mais o lado financeiro do jogo entrou na pauta do dia, na conversa do torcedor. É como se existisse uma competição paralela, independente daquela do campo, onde ganha quem ganha mai$.
Faz sentido: mais dinheiro, mais jogadores, time mais forte, sempre brigando lá em cima. As empresas querem exposição, pagam a quem exibe mais, os de maior audiência, que ficam ainda maiores, numa centrifuga hiperanabolizante onde – não se enganem – vão sobrar uns cinco, seis.
Num futebol onde a moda é copiar a Europa sem pensar muito vamos andando nessa estrada cada vez mais estreita, empurrando times e times para lá da estrada. E se aqui no Brasil, pelo tamanho, pelos milhões de torcedores que sustentam as forças regionais a coisa pode não ficar tão feia como na Espanha, ainda assim, ficamos muito aquém da nossa pluralidade.
Enquanto não mexermos na ferida da distribuição de renda do futebol brasileiro, seguiremos numa realidade onde:
Gigantes lutando para ganhar mais que os grandes
Grandes lutando para ganhar mais que os médios
Médios lutando para ganhar mais que os pequenos
Pequenos aceitando qualquer esmola politiqueira das federações
Enquanto nos mantivermos nesse moinho incessante… veremos time após time minguar e sumir: já se foi o América, já se foi Bangu; a força do Guarani, tantos outros, incapazes de competir, de vencer, nem que seja uma vez na década.
Ontem, com um a menos, o Flamengo pressionava o Macaé sem suar a camisa. É legal de ver? “Acabem com os estaduais”, eles dizem. Por que não revivê-los, revitalizá-los?
Há exceções no Paulistão, vez ou outra, mas não nos impedem de enxergar a tendência, o caminho que escolhemos – que a CBF, sempre ela, escolheu seguir. Um caminho para poucos, assim como a lógica que rege sua distribuição de benesses, repartições de dividendos, a portas fechadas, entre irmãos. Quem é que liga para o futebol, essa vaca leiteira?
Seguindo por esse caminho, nunca veremos um futebol plural onde em cada jogo, até mesmo no estadual, quem sabe, seja possível ao maior perder. É o que dá vida ao jogo, como morrer valoriza a vida.
Um jogo onde a vitória e a derrota estejam separadas por um palmo, dois palmos de mão… e não por léguas e abismos de dinheiro vivo. Ou pensamos na diversidade do futebol, no equilíbrio, ou viveremos esse futebol em que ganhar não tem gosto, nem sabor nenhum, de tão inverossímil que parece a derrota.
Seremos torcedores do Barça, olhando passivos mais um gol em cima do Granada, o nono; três de Messi, três de Suárez, três de Neymar.
A derrota não cabe no nosso espetáculo, na necessidade de aniquilação dos adversários; não importa mais saber perder, crescer na derrota. Ir no estádio e ver o time perder é igual ir num show da Madonna e a Madonna faltar. Vão pedir o dinheiro de volta.
É a lógica que se repete, dinheiro para comprar as vitórias.