Vamos lá, sem hipocrisia. Você apostaria dez centavos que o Leicester seria campeão inglês da atual temporada? Aliás: você acha que um dos maiores tapas na cara do futebol moderno surgiria dali? Mas, talvez, o berço do futebol fosse o lugar ideal para isso, não é mesmo?
E de quem foi a mão responsável por tal façanha? Um time que nunca foi reconhecido por suas glórias, títulos e vitórias. Um time acostumado a lutar para não cair – como aconteceu ano passado, aliás.
Nada faria nem o mais otimista e fanático torcedor acreditar que esse grupo de jogadores pudesse alcançar a glória. Mas eles conseguiram. Atletas que flertavam com o amadorismo não faz muito tempo e, de repente, ocupam as tribunas de honra de alguns dos maiores palcos do futebol.
O motivo? Ninguém sabe. É o que costumamos chamar de milagre. E podemos consider um milagre ainda haver milagres.
Com certeza vai aparecer alguém falando que o time tem um dono bilionário. Mas qual time não tem hoje em dia? E, mesmo assim, os que resolveram dentro da cancha não passam nem perto de popstars. Quem, um ano atrás, daria bola para o zagueiro jamaicano Morgan, autor do gol de empate contra o Manchester United? Que vidente veria em Vardy a maestria de um golaço pela seleção inglesa contra a campeã Alemanha? Que economistas, estatísticos e numéricos em geral vislumbraram em suas planilhas mirabolantes a emergência de um submarino azul desta envergadura?
Sugirá, decerto, algum analista disposto a desmerecer a campanha, dizendo que o futebol nivelou-se por baixo. Há doze meses, contra os mesmos times, o humilde elenco do Leicester comeu o pão que Margaret Thatcher amassou para não jogar a segunda divisão do campeonato.
E nem adianta evocar o montante investido na contratação de jogadores – algo risível perto dos recursos disponíveis nos cofres dos gigantes. Basta comparar o que United, City, Chelsea, Liverpool e tantos outros torraram em nomes (às vezes atletas) que pouco (ou nada) fizeram em comparação ao legítimo campeão inglês.
A campanha foi quase perfeita. Uma massagem cardíaca no futebol. Uma épica desfibrilação. Sem medo de enfrentar de igual para igual os poderosos e endinheirados clubes ingleses, o Leicester não abaixou a cabeça para os gigantes, nem para os novos ricos.
Tudo isso com um zagueiro jamaicano, um atacante batalhador, um técnico desacreditado. Mas com um grupo unido e determinado. Comedores de grama sem vergonha de sofrer, de mostrar o manto mais pesado ao fim da partida com o suor despejado em campo.
E grande parte dessa campanha foi narrada pelo grande profissional e amigo do RIP Futebol Clube Gustavo Villani, que traduziu e descreveu muito bem os passos desta jornada irrepreensível.
“Confesso que na maratona de fim de ano, quando os times da Premier League jogam a cada três dias, achei que o Leicester perderia fôlego. Pensava: como um time de elenco limitado pode passar por período tão cruel de seguidos jogos? Eu me enganei. O Arsenal perdeu fôlego, o Manchester City não engrenou, já o Manchester United oscilou demais, o Liverpool não ameaçou, o Chelsea, então, dispensa comentário. Grande campeonato fez o Tottenham, mas insuficiente diante do pequeno gigante Leicester. Nem na Bíblia Davi matou seis Golias. Guardarei para sempre o senso de organização, total autoconhecimento de um time que sempre soube o que podia fazer em campo. Correr, correr e correr. E daí que jogou quase sempre sem domínio da bola ou só no contra-ataque? Faz parte do jogo. Na Liga mais endinheirada do mundo, ganhou o maior azarão do futebol moderno. Nem Dinamarca-92, Once Caldas ou Grécia em 2004. Nem Mazembe, em 2010. Em 38 rodadas, em que a regularidade não dá margem para zebras como no mata-mata, o Leicester foi indiscutivelmente o melhor. Inacreditável, improvável, mas campeão. Inédito.”
02 de maio de 2016. Um dia histórico para o futebol. Se o Leicester fez, por que o país da CBF não pode?
Muito mais que um esporte. Sempre. Talvez mais vivo do que imaginamos.
Texto interessante, mas eu vejo de outra forma: que o Leicester tenha ganho é um sintoma da falta de qualidade e da mediocridade do futebol moderno, onde um time no máximo mediano foi capaz de explorar a falta de qualidade de alguns dos melhores times do mundo. Depois de uma copa do mundo onde um time de segunda como a seleção alemã foi capaz de ganhar facilmente de seleções despreparados psicologicamente como o Brasil – mas que sofreu pra ganhar de Gana – só mostra que o futebol está uma merda como nunca esteve antes, com grandes técnicos e jogadores sendo derrotados por timinhos borra botas. Triste será o dia em que todos os jogos forem o festival de correria e falta de domínio de bola que foram os jogos do Leicester, que só conseguiu fazer alguma coisa graças ao ritmo de jogo excelente de Vardy. RIP Football, indeed.
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Mimimimimi e o futebol ainda respira!!! #CongratsLeicester
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Time de segunda a Alemanha?Sério?Como uma equipe que tem Neuer,Boateng,Hummels,Lahm,Schweinsteiger,Toni Kroos,Mesut Ozil,Thomas Muller,Mario Gotze,Klose,Schurrle,Podolski,Weidenfeller,entre tantos outros pode ser chamado de time de segunda?E sobre o Leicester,com Jamie Vardy,Kasper Schmeichel,Christian Fuchs,N’ Golo Kanté,Jamie Vardy,Riyad Mahrez,Albrighton,é um time ruim?Penso que não,embora não seja nenhuma maravilha.E a Premier League não é só correria e perna de pau não,é muito mais do que isso,dificilmente se vê um jogo ruim,os clubes ajudam-se uns aos outros quando necessário,as cotas de TV são justas e não existem privilégios de alguns clubes em detrimento de outros(ao contrário do Brasileirão),a arbitragem costuma deixar o jogo correr e não marca falta em qualquer contato físico.O futebol ainda não morreu,apenas luta para sobreviver.
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O futebol na Inglaterra não morrerá por que lá é o verdadeiro “país do futebol”.
Tudo flui em prol do futebol inglês: torcida apaixonada e presente, dinheiro, mídia, etc. Tudo bem canalizado.
Aqui é somente o país produtor de jogador. Quem dirige só pensa no lucro e não investe no potencial INFINITO do país.
Nossa gurizada já tá desistindo de jogar, e quem ainda joga já cresce torcendo pra Barça, Real e outros grandes europeus.
Mais tarde pensando nisso, lembrei quando ia ver os jogos do São José de Porto Alegre, com meu pai.
Lembro que havia uma pequena torcida organizada, composta por bravos e apaixonados adolescentes.
Minha tese é de que os ingressos estão absurdamente caros! Na época era 20 R$ pra Gauchão.
Futebol é pra pobre! Classe média, pra cima, só vai em finais tirar selfie, e olhe lá!
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Façam um artigo sobre o AFC Wimbledon, um dos maiores chutes na cara do futebol moderno!
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