Por Luiza Romão na Cooperifa.
era pra ser várzea,
te fizeram arena
era pra ser pelota pelada
pedala pelé,
projeto de pátria,
bola no pé
mas virou world cup
pro elenco de estrelas,
investimento estratosférico,
não sei mais o nome dos seus astros,
por isso escalo
o que vejo no estádio:
fiat na zaga;
adidas pelo meio;
BR cruza pra unimed
lá vem semp toshiba
olha o habbibs chegando
LG com liquigaz,
e é GOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOO
OOOOOOOOO
OOOOOLL!!!
(linhas aéreas inteligentes)
nesse passe-repasse
a bolada some
num passe de mágica
em campo são onze,
mas a ordem
vem do banco
apararam
a grana
do gramado
pra debaixo do tapete
o chapéu
virou cartola;
não sei o que fizeram
do coelho nessa história
não há impedimento
pros seus cruzamentos
financeiros
a barreira aperta
mas a bola sobe,
encobre o goleiro,
o fiscal,
o agiota
seu estádio vale mais
do que qualquer escola,
professor bem pago
é o técnico dessa palhoça.
enquanto isso, os moleques
só usam caneta
na hora de fazer gol de letra
aos 48 do segundo tempo
um, dois, cinco milhões
de acréscimo
por alguma entrada ilícita
ou falta
de planejamento
o meio de campo tá armado
com canhão, tiro de meta
pra silenciar quem,
do lado de fora,
protesta
carrinho agora é blindado
bicicleta, envenenada
arquibancada só pra quem tem
cartão amarelo
visa mastercard ou cielo
de TUP(i)
só a organizada
sua língua oficial
é real madrid.
sócrates virou auto-ajuda
casagrande nem comenta senzala
seus ídolos não têm mais Raí
na minha terra tinha palmeiras
onde cantavam galo gavião periquito
terra de todos os santos:
de são paulo a santo expedito
era pra ser fla-flu
botando fogo no sport
grêmio de toda sorte.
mas seu cruzeiro aponta
pro hemisfério norte,
você só quer saber de ser alto astral
sua vitória é internacional
se esse é o país do futebol
eu penduro minhas chuteiras
enquanto esse grito na garganta
for motivo de pranto,
eu abandono meu manto
e espero voltar do vestiário
o futebol primário
que sem empreendedores
faz de nós,
libertadores