O gramado não é um detalhe qualquer
Não é que só o jogo importa e o piso possa ser qualquer coisa que a FIFA permite.
A grama é uma entidade do jogo.
É nela que desde tempos imemoriais o carinho pelo jogo começa.
Nas mãos e olhos que cuidam do gramado, cultivam o tapete que sabem, vai abrigar um espetáculo alguns dias adiante.
Telê Santana, técnico arte, era visto nos treinos curvado, arrancando uma erva qualquer que se intrometesse naquele solo sagrado onde bola devia rolar lisinha, de pé em pé.
Mesmo os gramados ruins, obra do descaso, sempre foram um componente a mais, reforçando a desigualdade financeira entre os clubes e curiosamente aproximando craques e pernas de pau, todo mundo perdendo bola pro buraco.
A grama alta, fofa, privilegia um futebol técnico, mais lento, ajuda a manter a bola perto do pé. A grama baixinha, cortada rente, deixa o jogo rápido, que nem pinball, de jogador em jogador.
Pois bem.
Essa semana o Atlético Paranaense – estejam conosco os atleticanos, para além do clubismo – anunciou que vai instalar na baixada grama sintética
Deve ser mais barato, né?
Podemos estar sendo puristas, mas… aquilo ali não é grama né?
Aquela coisa viva, que precisa irrigar senão morre.
O piso sintético é instalado, envelhece e a gente troca.
Compra mais, repõe.
Empobrece o futebol.
Jogam areia no piso, pra tentar nivelar.
Dizem que não há solo pior pros joelhos.
Na Copa do Mundo de Futebol Feminino, a grama sintética foi o ponto mais negativo de toda competição. Houve reclamação de todas jogadoras de todas equipes.
Mas vamos lá, vamos modernizar, vamos LUCRAR. Ficamos aqui imaginando a relação das empresas de grama sintética com a amada, honesta e querida FIFA.
Que não seja a primeira de duas.
por Henrique Lederman